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Durante a década de 1940, Lisboa assiste ao desenrolar de um movimento de expansão urbana, apoiado no cruzamento do imaginário simbólico da portugalidade com o racionalismo do modernismo europeu. Estava em causa a disseminação de uma arquitectura sóbria e pragmática, marcada por uma presença ainda latente dos ofícios – como se revela nos alçados e nos espaços comuns do edifício implantado em T.
Após alterações profundas nos últimos anos, o apartamento dissimula os sinais da arquitectura de uma época. Sem repor a estética original, nem tão pouco anular as alterações realizadas no passado, o projecto procura restituir uma serenidade e um sentido de unidade, entretanto perdidos. Trata-se de um exercício de reabilitação, fiel à configuração original dos espaços, apesar da subtracção e adição de algumas paredes interiores.
Estruturada por um corredor, a casa estende-se ao comprido, numa sequência de espaços, permeáveis ao exterior em três lados. A cozinha mantém-se distante dos espaços sociais e os quartos ocupam o alçado lateral. O corredor é o elemento de distribuição e constitui o elemento gerador da experiência espacial de uma casa que fundamentalmente se percorre. Embora já distante dos novos modos de habitar, a configuração espacial participa na essência do edifício e revela-se imprescindível para uma leitura coerente da sua arquitectura.
O pavimento original em taco macheado é restaurado para coexistir silenciosamente com o mármore escuro que agora reveste a cozinha e as instalações sanitárias. As portas, aros e caixilharias introduzidas obedecem a um desenho neutro e racional, reforçado pela cor branca dos espaços. Renunciando à simples reprodução de um traçado já perdido, o mobiliário fixo e demais equipamentos ajustam-se também ao espírito de modernidade do projecto original – como, aliás, se percebe no desenho da mesa da cozinha e do seu banco envolvente.
Sem grandes reconfigurações espaciais ou estilísticas, o projecto decorre de uma abordagem sensível à identidade da casa, através da qual as suas atmosferas originais são reconstruídas, pela introdução de elementos neutros e silenciosos e pelo restauro de outros já antigos.
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During the 1940s, Lisbon underwent a movement of urban expansion based on a combination of the imaginary symbolism of Portugal’s significance with the rationalism of European modernism. The idea was to disseminate simple and pragmatic architecture, marked by a remaining underlying presence of the craftwork – as seen in the elevations and common spaces of the building constructed in a T format.
After undergoing profound changes in the past years, the apartment still exhibits hidden signs of the architecture of a bygone period. Without restoring original aesthetics or cancelling out changes made in the past, the project seeks to restore serenity and a sense of unity that had previously been lost. This an exercise in renovation, true to the original configuration of the spaces, despite the subtraction and addition of some interior walls.
Structured by a corridor, the house extends lengthwise in a sequence of spaces permeable to the outside on three sides. The kitchen is distant from the common spaces and the bedrooms are located in the side elevation. The corridor is the distribution element that generates the spatial experience of walking through a house. Although already distant from the new habitation modes, the spatial configuration is part of the essence of the building and is essential for a coherent reading of its architecture.
The original floors in grooved wood have been restored in order to quietly co-exist with the dark marble that is now used in the kitchen and the bathrooms. The doors, frames and joinery that were used have a neutral and rational design reinforced by the white colour of the spaces. Opting not to merely reproduce a long lost design, the fixed furnishings and all other equipment have also been adapted to the modern spirit of the original project, as we can see in the design of the kitchen table and its surrounding bench.
Without having undergone any major spatial or stylistic reconfigurations, the project ensues from an approach that is sensitive to the identity of the house, one where its original atmospheres are reconstructed by introducing neutral and quiet elements and through the restoration of other older ones.